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Paulo Evaristo Arns, o bispo da esperança


"Francisco não teve nenhuma pretensão, a não ser dar-se. Quis estar junto do outro. Ser Menor, pequeno, para entender a grandeza do outro, não o atropelando em sua dignidade.

Viveria certamente hoje na América Latina uma busca contínua de comunhão com Deus, através de tudo e de todos os seres criados. Tornaria o Evangelho vivo e encarnado, comprometido com o oprimido e o marginalizado de nosso tempo."

Com estas palavras, Dom Paulo descreve um santo lembrado pelos católicos, de modo especial, no dia de hoje: Francisco de Assis, um jovem simples, mas que revolucionou com sua profunda fé, humildade, coragem e, sobretudo, amor. E Dom Paulo, com sua vida, foi um autêntico cristão inspirado pelo exemplo de Francisco.

Vinte e oito anos à frente da segunda maior comunidade católica do mundo, a Arquidiocese de São Paulo, com cerca de 7,8 milhões de fiéis, perdendo apenas para a da Cidade do México, dom Paulo Evaristo Arns foi uma das mais expressivas lideranças religiosas do Brasil. Aos 90 anos, dom Paulo Evaristo Arns, cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, é símbolo de luta pelos mais humildes e resistência contra a ditadura no Brasil.

Dom Paulo celebrou seus 90 anos no dia 14 setembro, em uma cerimônia simples, na capela da casa das Irmãs Franciscanas da Ação Pastoral, em Taboão da Serra. A celebração foi conduzida pelo cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, atual arcebispo da arquidiocese, ao lado do cardeal Dom Cláudio Hummes, oito bispos e 15 padres, assistida, ainda, por familiares e amigos, num total de 75 pessoas.

Biografia e contribuições de Dom Paulo Evaristo Arns na luta pelos direitos humanos

D. Paulo Evaristo Arns é de Forquilhinha, interior de Santa Catarina, mas foi nomeado arcebispo de São Paulo, em 1970. Logo que assumiu o cargo de arcebispo da cidade, em 1970, vendeu o Palácio Episcopal por 5 milhões de doláres e empregou o dinheiro na construção de 1.200 centros comunitários na periferia. Impressionou o país e o mundo pelas suas atividades em defesa dos direitos humanos durante o período da ditadura militar, quando combateu a intransigência do regime militar e agiu em favor das vítimas da repressão.

Três anos depois, foi proclamado cardeal pelo papa Paulo 6º. Durante os anos de chumbo, o cardeal combateu a ditadura e as desigualdades sociais. Já recebeu mais de 30 prêmios e certamente figura entre os que mais contribuíram por um mundo melhor. Criou a Comissão Brasileira de Justiça e Paz, que denuncia até hoje casos de tortura e assassinatos cometidos pelo regime militar, dando apoio às vítimas.

No ano de 1975, celebrou na Catedral da Sé – junto com o rabino Henry Sobel e o reverendo protestante James Wright – um culto ecumênico em função da morte do jornalista Vladimir Herzog.

O cardeal intercedeu no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976, quando parte da direção central do PCdoB foi atingida pela repressão matando três integrantes: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond.

O objetivo da ditadura era dar fim ao núcleo dirigente do partido, que conseguia sobreviver minimamente e comandou a maior resistência armada ao regime: a Guerrilha do Araguaia. Por conta de um delator, Jover Telles, membro do PCB, localizaram o grupo que se reunia na Rua Pio XI, na Lapa. A atuação de Dom Paulo pela defesa dos direitos dos presos políticos e a pressão que exercia no regime militar evitou que outros militantes fossem mortos.

Defendeu também os líderes sindicais nas greves, apoiou a campanha contra o desemprego e o movimento pelas eleições diretas. Sua luta em defesa dos direitos dos pobres e pelo fim da desigualdade social lhe valeu dezenas de prêmios no mundo: título de doutor honoris causa em universidades dos Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Holanda; prêmio do Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (1985), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), entre outros. É o primeiro e único brasileiro com chances reais de ser eleito para ganhar o Nobel da Paz. Perdeu para o Dalai Lama, em 1990.

Por causa de sua coragem em denunciar, Paulo Evaristo foi muito perseguido. Pelas costas era chamado de "bispo vermelho", de "subversivo". Em 1973, por apoiar as mulheres que reclamavam da carestia, recebeu um "castigo" duro: os militares cassaram a rádio 9 de Julho, da Arquidiocese (que foi devolvida, neste ano, no meio de muita festa). O jornal O São Paulo foi o último a deixar de ser censurado no país, em 1978. Foi ele quem criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, que por muito tempo teve os telefones grampeados.

Dom Paulo também foi um dos representantes da Teologia da Libertação na América do Sul. "O fato de fazer da libertação um modo de vida e um estilo de diálogo foi mais que um discurso ou um slogan. Defendeu a todos sem distinção de credo ou ideologia. E soube, sempre, ouvir com serenidade. Seu valor fundamental foi dizer a palavra correta na hora necessária", reforça Altemeyer. Para Leonardo Boff, o religioso representa o símbolo da "consciência e justiça social, um verdadeiro cardeal dos pobres".

Em 1992, Dom Paulo criou o Vicariato Episcopal da Comunicação, com a finalidade de fazer a Igreja estar presente em todos os meios de comunicação.

Pediu demissão do cargo de cardeal-arcebispo em 1998, como determinam as normas da Igreja. Incentivando a integração entre padres, religiosos e leigos, criou 43 paróquias e apoiou a criação de mais de 2 mil Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) nas periferias da metrópole.

Ao completar 90 anos no último dia 14 de setembro, Dom Paulo Evaristo Arns foi lembrado como "a voz dos que não tinham voz" e um representante "incansável na defesa dos direitos humanos". Jornalista não-profissional registrado na 14º Delegacia Regional do Trabalho de Petrópolis (RJ), em 1961, e empossado como jornalista militante pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entre 1979 e 1985, coordenou com o Pastor Jaime Wright o projeto “Brasil: Nunca Mais”, contra a tortura.

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