Há quem defenda a cobrança de mensalidades no ensino superior público e até mesmo a sua privatização completa. Na USP e em outras universidades públicas, há uma enorme quantidade de alunos com baixíssimo poder aquisitivo, a maioria deles em cursos como Filosofia, História, Ciências Contábeis e outras com menos "prestígio". O problema não é a desigualdade de oportunidades de acesso ao ensino superior público, mas as deficiências no ensino fundamental e médio nas escolas públicas. Estudos promovidos por diversas entidades mostram ser possível aumentar os investimentos em educação, a fim de solucionar esses problemas, aumentar as vagas nas universidades públicas e sem prejudicar a qualidade no ensino.
Veja a seguir a prova de que as nossas universidades públicas são muito mais eficientes e dão um retorno social muito maior às comunidades que a rodeiam do que as faculdades privadas.
Veja a seguir a prova de que as nossas universidades públicas são muito mais eficientes e dão um retorno social muito maior às comunidades que a rodeiam do que as faculdades privadas.
O mito do custo do ensino superior
Muitas das decisões sobre políticas educacionais no país são
tomadas com base em interesses nada
republicanos e “fundamentadas” em mitos fortemente propalados para dar àquelas
decisões a aparência de seriedade. Um desses mitos diz respeito aos
investimentos necessários para manter um estudante de graduação, que seriam
muito inferiores nas instituições privadas quando comparados com os das
públicas. Esse mito, como não poderia deixar de ser, é repetido à exaustão;
afinal, é dessa forma que mitos sobrevivem.
A conta que embasa esse mito corresponde, simplesmente, a
dividir o orçamento de uma instituição pública pelo número de matrículas nos
cursos de graduação e comparar o resultado com as anuidades das instituições
privadas. Mas esse critério está errado.
Os orçamentos usados para esse cálculo não são comparáveis,
pois os das instituições públicas incluem muitas despesas não incluídas nos das
instituições privadas, tais como pós graduação, pesquisa científica e
tecnológica, o atendimento da população em seus hospitais, a prestações de
serviços como museus, rádios, centros culturais, editoras etc. Em várias
instituições públicas, os orçamentos incluem, ainda, o pagamento de
aposentadorias (como é o caso das universidades estaduais paulistas, USP, Unesp
e Unicamp), enquanto as aposentadorias das instituições privadas são pagas principalmente
pelo INSS. Portanto, para uma comparação imparcial dos investimentos para
manter um estudante em um curso de graduação, devemos levar em conta esses
fatos.
Outra questão a ser considerada é a distribuição dos
estudantes pelas diferentes áreas de conhecimento. Por várias razões, inclusive
puramente financeiras ou mercantis, as instituições privadas concentram seus
cursos onde a combinação dos custos com o apelo mercadológico é mais favorável.
Assim, por exemplo, embora cerca de 75% das matriculas em cursos superiores
estejam nas instituições privadas, elas estão concentradas em cursos nos quais
a relação entre a atratividade (cursos da moda ou cursos que dão a impressão de
propiciar emprego fácil e bom no futuro) e os investimentos são mais favoráveis.
Vamos a alguns dados. Na área de Administração, com cursos que exigem poucos
investimentos e têm grande atratividade, a porcentagem de matrículas em
instituições privadas é bem acima da média nacional, mais de 90%. Na área de
Medicina, de alto apelo, mas de custos bastante elevados por causa da
infraestrutura, dos laboratórios e da grande carga didática, a privatização é
significativamente abaixo da média nacional, inferior a 60%, e em grande
parte correspondendo a instituições não
mercantis. Na área de produção agrícola e pecuária, com algum apelo, mas custo
relativamente alto, por envolver laboratórios complexos, a privatização está
abaixo dos 30%. Como último exemplo, os cursos de bacharelado em Física, de
custo relativamente alto e pouco atraente, ela é de apenas 5%.
Portanto, usar as médias dos investimentos necessários para
manter um estudante de graduação em uma instituição pública e em uma
instituição privada sem levar em conta o que foi mostrado acima, leva a
conclusões erradas.
Quando são feitas essas correções, vemos que o mito é
totalmente falso, pois a realidade mostra o inverso. Em um curso na mesma área
de conhecimento e com mesma qualidade, os levantamentos já mostraram que os
custos da USP, por exemplo, são comparáveis ou mesmo menores do que o que é
cobrado pelas instituições privadas.
E se considerarmos os retornos dados à sociedade, como a
adequação dos cursos às necessidades nacionais e suas distribuições
geográficas, as instituições públicas se mostram ainda muito mais vantajosas.
Devemos, também, considerar o abandono dos cursos, significativamente mais alto
nas instituições privadas do que nas públicas, o que faz com que o custo
efetivo de formação de quadros para o país por essas instituições seja ainda
mais caro do que parece quando olhamos apenas suas mensalidades.
Mas mitos são mitos: suas existências independem da
realidade e uma de suas funções é estabelecer modelos de pensamento. E os
mitos, ao lado dos “impostômetros” e discursos amplamente propalados pela
mídia, existem não apenas na educação, mas em muitos outros setores, servindo
para “embasar” muitas de nossas políticas e impedindo que mais recursos sejam
destinados à educação pública e a outras áreas de interesse social.
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