Pe. Zezinho,scj
A um religioso de outra igreja, que, numa oração em família dissera que Deus é tudo, repeti o que digo agora. A um padre que, num programa de rádio dizia: "Meu Deus é meu Tudo", alertei contra o perigo de induzir as pessoas menos evangelizadas a uma espécie de panteísmo. Os dois aceitaram rever seu discurso. Deus não é tudo nem fez tudo. Ele é o criador do bem e não do pecado. O pecado tem outra origem.
Aquele que contém tudo, não é tudo. Às vezes, como eu disse, as pessoas usam a expressão "Meu Deus é meu tudo". Parafraseiam, errado, a frase de São Tomé: "Meu Senhor e meu Deus". Não sei de nenhum lugar na Bíblia onde esteja dito que Deus é tudo. Ela faz uma distinção entre o Deus que criou quase tudo e o tudo que Deus criou. E deixa muito claro que Deus não é autor do pecado. Então, Deus também não é o criador de tudo. O pai da mentira, por exemplo, não é Deus: é o demônio. Jesus mesmo diz isso. (Jo 8,44)
Dizer que Deus é nosso tudo é uma expressão muito bonita, mas deve ser entendida dentro de um contexto comparativo, de parábola, de simbolismo. Se "tudo" compreende tudo aquilo que existe, então, precisamos corrigir nossa linguagem. Se eu disser que Deus é tudo e tomar isso ao pé da letra, estarei dizendo que Deus também é pecado, porque o pecado faz parte de tudo que existe. A dor existe e está dentro do tudo. Este pedaço de pedra que eu tenho na mão existe e está dentro do tudo. Se eu disser que Deus é tudo, então eu estou dizendo que Deus pode ser esta pedra, pode ser pecado, crime, vingança, inveja, porque estas coisas existem. Se disséssemos que Deus é tudo o que existe então estaríamos dizendo que Deus é também o mal... O panteísmo leva a isto. Precisamos tomar cuidado com nossas pregações entusiasmadas.
Na verdade, posso dizer que Deus sabe de tudo, mas não posso dizer que Deus é tudo, nem que Ele concorda com tudo. Deus sabe da existência do pecado, mas não peca nem aceita o pecado. Ele é santo. Ele é Ele. Deus não é a criação: apenas a criou. Toda vez que eu disser que Deus é tudo estarei comparando-o com as coisas que existem. Estou fazendo o que Ele pediu que não fizéssemos com Ele ao proibir que fizemos imagens dele. Seriam erradas desde o primeiro traço.
Acertaríamos melhor, se disséssemos que Deus é mais do que tudo. Aí sim, estamos com filosofia e teologia corretas. Deus não é tudo. Ele é mais do que tudo. Ao dizer que Ele é mais do que tudo, então, estamos dizendo que Ele não é o pecado, não é a pedra, não é a criação. Há coisas na criação que certamente Ele não quis que fossem assim. Mas, como criar também supõe dar liberdade, de repente aconteceu o pecado. E Deus sabe conviver com os limites humanos, inclusive os limites do pecado. Por isso é que Ele perdoa. Ele não poderia perdoar, se não fosse mais forte do que o pecado. Se perdoa é porque é muito maior e muito mais forte do que o pecado. Por isso Ele perdoa. Dá muito mais do que a gente merece. Eu volto a falar sobre isso!
Fonte: Catolicanet/Padre Zezinho/Catequese Urgente (Nov/2004)
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