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COPA 2014: Polêmicas do acarajé e do nome do craque "Mané Garrincha"



Depois do acarajé, a Fifa proíbe Mané Garrincha no Brasil

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, pensa com a cabeça do colonialista e fala a linguagem dos antigos becos de Paris, da época em que o Châtelet-Les Halles não fora ainda desratizado. 

No ano passado, na sequência dos destemperos verbais do seu secretário-geral, a Fifa anunciou a proibição da venda de acarajé no Estádio da Fonte Nova. Decerto quer obrigar o povo baiano a ingerir as fast-porcarias que acompanham suas venenosas bebidas.

A possível proibição do Acarajé, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio imaterial da Bahia, gerou grande descontentamento na população baiana, acarretando em protestos especialmente das vendedoras dos quitutes, conhecidas como “Baianas do Acarajé”, de membros do Ministério Público do Estado e de lideranças de movimentos sociais e culturais do Estado, como do Movimento Negro, em razão da origem do alimento, considerado sagrado no continente africano.

Além disso, o descontentamento também se deve ao fato de que existe uma tradição nos Estádios de Futebol na Bahia, principalmente em Salvador, de se comercializar o quitute na forma tradicional, qual seja, pelas “Baianas”, devidamente paramentadas com trajes típicos, nos seus tabuleiros.

Segundo a presidente da Associação das Baianas de Acarajé e Vendedoras (Abam), Rita Maria Ventura dos Santos, somente no interior do antigo Estádio da Fonte Nova, desativado em 2007 e demolido em 2010 para a construção da moderna Arena Fonte Nova, que sediará os jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo em Salvador, existiam oito baianas credenciadas, que deixaram de trabalhar no Estádio em razão da desativação e ficariam prejudicadas com a possibilidade da proibição.

Além das credenciadas, muitas outras Baianas seriam prejudicadas pela medida, pois comercializam os seus quitutes nas imediações do Estádio, consideradas, pela Lei nº 12.663, de 05 de junho de 2012, mais conhecida como “Lei Geral da Copa”, como “Áreas de Restrição Comercial e Vias de Acesso”, nas quais só poderiam ser comercializados produtos dos patrocinadores do evento.

Na última sexta-feira (6), o burocrata-geral da Fifa voltou a dar o ar da sua graça, pois estava meio calado desde a gafe do ano passado. Em comunicado vazado em frio e boçal estilo nórdico, o secretário-geral da Fifa voltou a criticar a organização da Copa no Brasil, afirmando que "não estará 100%", já que segundo os seus cronogramas os prazos acertados para a entrega dos estádios caíram de seis para dois meses.

Vejam: "O feedback que recebi das reuniões operacionais do governo com o Comitê Organizador Local – em cada uma das seis cidades-sede – foi positivo. A Copa das Confederações será um torneio fantástico, mas todas as operações organizacionais não estão 100%. É impossível esperar que isso aconteça com o tempo de preparação reduzido – na maioria dos casos, em menos de dois meses – ao invés dos seis programados". (Folha de S. Paulo on line, 6/4/2013)

"Organizar uma Copa do Mundo é um trabalho infinitamente mais complexo e exigente do que o da Copa das Confederações, que tem apenas 25% do número de partidas. A escala e a magnitude da Copa do Mundo requer um mínimo de seis meses do enquadramento operacional", continuou o professoral secretário-geral da Fifa. (Idem)

Mas a insolência da Fifa não ficou por aí e seu último decreto terá tido no mínimo o efeito de revolver os túmulos dos craques de todos os tempos e despertar as iras dos deuses do Futebol, inclusive as temíveis entidades que se nutrem na Bahia de oferendas de acarajé. Agora, a toda-poderosa decidiu que, durante as competições que organiza, o nome "Mané Garrincha" não será permitido para referir-se ao Estádio de Brasília, que já nasceu batizado assim. E mais, disse a Fifa que a ordem terá de ser respeitada em propagandas e divulgações dos eventos. Aqui nesta página, pode ter certeza a senhora, a única designação admissível para o estádio da Capital Federal, já padronizada em norma editorial, será “Mané Garrincha”.
Nunca se viu tamanha ofensa não só à inteligência nacional, tal escracho à alma de cada moleque, adulto ou velho que aprendeu desde a fase uterina a idolatrar a mais brasileira dentre todas as figuras do mundo do Futebol – Mané Garrincha.

Despudorada, a entidade secretariada pelo senhor Valcke confessa que o decreto é uma imposição do "interesse internacional" e uma obrigação derivada da necessidade de "manter a consistência dos nomes dos estádios".

Os burocratas da Fifa, em sua sacrossanta ignorância, acham que nomes como Mané Garrincha, Maracanã, Mineirão, Itaquerão e outros inventados pelo povão são de difícil compreensão para quem não fala o vernáculo e muito menos conhece os jargões da patuleia. Com a propensão de adaptar-se a quaisquer circunstâncias desfavoráveis, o nosso povo resolveu o suposto impasse à sua maneira safa e malandra.

Desde o começo do século 20, quando o futebol começou a ser jogado aqui com exóticas palavras britânicas, o brasileiro foi capaz de naturalizar vocábulos e sem cerimônia compreendeu que Foot-ball é “Futebol”, goleiro é “golquíper”, defensor recuado é “beque”, meio-campista é “centerralfe”, escanteio é “córner”, penalidade máxima é “pênalti”, e assim por diante.

Cada um desses vocábulos narrados pelos locutores de rádio do passado e repetidos nas arquibancadas e bares com as variantes de sotaque próprias da imensidão do país enriqueceu a língua nacional e nunca impediu que as regras do futebol e a maneira de escalar as equipes fossem bem assimiladas.

Mas, devemos confessar que não ficou claro se no afã de assegurar o “interesse internacional” e os indeclináveis contratos comerciais para exibir melhor as marcas dos seus anunciantes, a Fifa tem implícito algum plano de “alfabetização” às avessas, para que alguns sonoros vocábulos com que se designam as mães dos juízes (de futebol) sejam pronunciados em inglês ou, quem sabe, no francês de Monsieur Jérôme.

E para completar o rol de estupidezes, bateu em nós essa estranha mania de chamar campo e estádio de arena. Talvez tudo tenha coerência com os costumes da época. O povão, que gosta de uma boa dose de Serra Grande, Pitú, Saborosa ou 51, e antes dos jogos forra as tripas com acarajé, abará ou sarrabulho, já não frequenta os estádios. Vê os jogos em aparelhos de televisão comprados a prazo, pois o ingresso, cotado em euro ou dólar, é privilégio da elite cosmopolita, que não compreende que o futebol – pelo menos no Brasil – não é um evento de consumo, mas uma manifestação da alma nacional. Somente numa época como esta um Valcke da vida se transforma em autoridade supranacional.

Fontes: Portal 2014 e Vermelho

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