Eliomar Ribeiro, sj
Um escritor italiano, Romano Guardini, disse que a Liturgia "são os
filhos e as filhas de Deus a brincar diante do Pai". Celebrar como
brincadeira de criança... já imaginou... lembra um pouco nossas festas
populares, com muita música e conversa, luzes e cores, comida e bebida, abraços
e beijos, algazarra e silêncio, presente e gratuidade. Confesso que quando li
esta definição eu pensei logo dos meus tempos de criança, na roça, quando
brincava com meus irmãos e primos de bola, de pique de esconder, de andar a
cavalo num pedaço de madeira. Era a maior felicidade. Todas as tardes, após a
brincadeira tomávamos banho e íamos comer a comida gostosa preparada pela
mamãe. Um ritual comum, que sempre nos deixava plenamente felizes.
Quando a gente pensa nas nossas Celebrações, a maioria delas não revela algo
assim. É tudo tão sério, tão endurecido, tão estático, tão sem vida. No mês de
julho, assessorando um grupo temático do Mutirão Brasileiro de Comunicação,
alguém disse que nossas Liturgias são "sem coração",
mais ainda, "parecem não serem humanos os que celebram".
Fiquei triste com a constatação, mas é verdade. Quando vai chegar o dia em que
nossas Celebrações sejam verdadeiramente participação na vida de Cristo que nos
transforma em seu próprio corpo?
Brincar diante do Pai é não ter medo, é não se sentir reprimido ou podado. É
ser capaz de ser o que se é. Quando nos reunimos para Celebrar, afirmamos que
Deus é a razão da nossa vida e que vale a pena ser irmão dos outros. Celebrar é
comprometer-se com a vida. Não basta fazer festa! Não basta celebrar bonito! É
preciso assumir o projeto de Jesus e vivê-lo na grande Liturgia da Vida. A
Liturgia não é simplesmente um momento isolado mas fruto do desejo de estar com
os outros para louvar e agradecer todo o recebido. Podemos dizer que sempre
estamos brincando diante do Pai, e em alguns momentos partilhamos nossa
brincadeira com os demais, aí acontece a Liturgia.
Você já observou como a gente foi perdendo a dimensão do brincar. Antigamente
havia as brincadeiras e danças comunitárias. Muitas crianças que nascem nas
cidades grandes, moram em apartamento, nem sabem cantar uma cantiga de roda.
Sabe por quê? O computador, o vídeo game, o fliperama, foram substituindo as
brincadeiras comunitárias. Hoje o que vale é você ter prazer, ainda que seja
sozinho. Que coisa mais chata, brincar sozinho enquanto há uma imensidão de
gente ao meu redor.
Isso vale também para a Liturgia. Há gente que pensa que celebra sozinho.
Escolho a Igreja, o padre tal, o pastor fulano... Deus é submetido aos meus
desejos e sentimentos. É uma experiência de fé que passa longe da experiência
cristã. Aliás tem muita gente, muitos jovens também, que vão à Igreja aos
domingos, mas não sabem para quê. Gente querida, ser cristão é comprometer-se
com o projeto de Jesus. Um abraço grande!
Fonte: Centro de Capacitação da Juventude (www.ccj.org.br)
Comentários