315 anos do martírio de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares
O 20 de Novembro - Dia Nacional da Consciência Negra - é uma conquista do movimento negro brasileiro, simboliza a resistência e determinação do povo negro no Brasil, contra a opressão e pelo reconhecimento da dignidade. É um momento de reafirmação da luta contra o racismo, reflexão e proposição. A escolha da data é uma homenagem ao guerreiro Zumbi, líder histórico do quilombo de Palmares, que foi brutalmente assassinado, na mesma data, em 1695, após ser traído e entregue a Domingos Jorge Velho e seus bandeirantes. Alçado a ícone da resistência contra o racismo e a discriminação, Zumbi faz parte, desde 1995, do Panteão de Heróis da Pátria.
O dia 20 de novembro é a data que comemora a Consciência Negra, tendo como figura mestre Zumbi dos Palmares que, na mesma data 1695, tombava como o grande ícone da resistência do povo negro e da luta contra a escravidão.
“A insistência em celebrar a memória de Zumbi dos Palmares no dia 20 de Novembro foi a resposta dada pelos negros organizados na perspectiva de lembrar que a abolição foi um processo inconcluso e que só seria plenamente completa pela pressão do movimento negro”, comenta padre Ari. Para ele, o Dia da Consciência Negra é fruto do amadurecimento do movimento negro que questionou o acento histórico dado ao dia 13 de maio, data que lembra a assinatura da Lei Áurea.
“Compreende-se que a assinatura da Lei Áurea não trouxe a verdadeira libertação. Apesar da legalidade da alforria viu-se a construção de outras formas de opressão e negação do direito à cidadania aos negros. Os mecanismos de exclusão continuaram assumindo facetas diferenciadas. Não foi permitido o acesso dos negros à educação, emprego renumerado, moradia digna e outras de beneficio à população em geral que já existiam no século XIX”, acentua o assessor.
Fonte: CNBB
Está em jogo o direito à diferença. Mas aqui há uma armadilha que é preciso evitar. A luta pelo direito à diferença pode encobrir desigualdades sociais históricas e estruturais. Como se o direito de ser diferente pudesse justificar a riqueza e a opulência de uma minoria, ao lado da miséria e fome da imensa maioria. Em poucas palavras, reconhecer nossas diferenças de raça, cor, origem, sexo, credo, nacionalidade, etc. não nos exime de combater os abismos que separam hoje ricos e pobres, uns às custas dos outros.
O mais grave é quando a pobreza é agravada pelo estigma do preconceito diante do outro, do estranho, do diferente. Ou pior ainda, quando miséria e discriminação tornam-se, simultaneamente, causa e efeito uma da outra, entrelaçadas ambas num círculo vicioso de exclusão social. O resultado é perverso: pobre porque desempregado, desempregado porque desqualificado, desqualificado porque não teve meios de acesso à escola, e assim por diante. Racismo, xenofobia e marginalização social constituem, então, três faces da mesma moeda.
São os grilhões de aço que, mesmo depois da abolição, ainda prendem muitos negros e negras a uma "escravidão invisível", mas não menos dolorosa. Segundo pesquisa da ONU, realizada em 2002, o Brasil é o país de maior preconceito racial. Velada ou aberta, trata-se de uma marca impressa a ferro e fogo na pele e na alma do povo negro, como também em nossa cultura tida, não raro, como "cordial e acolhedora".
Felizmente estão em curso inúmeras iniciativas de resistência. A voz dos tambores, vinda do coração da África e do ventre da própria terra, ao mesmo tempo nega e afirma a chamada "convivência pacífica" da sociedade brasileira. Nega, na medida em que põe a nu as chagas de uma escravidão que se perpetua de mil formas e em milhões de pessoas; afirma, quando traz consigo a dança, a alegria e a festa de uma povo que não se deixa abater e que carrega na memória lições de resistência e solidariedade. Voz guerreira e, ao mesmo tempo, voz de paz! Grito surdo que insiste em assinalar as diferenças, mas luta bravamente pela igualdade de oportunidades, pelo direito à vida, à cidadania e a uma pátria sem fronteiras.
No dia da Consciência Negra, 20 de novembro, somos gratos a Zumbi e às comunidades negras. Tendo sofrido na carne a escravidão, mantiveram de pé o sonho de liberdade; passando pela cruz entendem melhor a ressurreição; conhecendo a senzala, construíram o quilombo; experimentando a exclusão social, apontam para a utopia do Reino.
*Setor Pastoral Social da CNBB
Dia Nacional da Consciência Negra: "reivindicação dos direitos da população afrobrasileira"
No próximo sábado, 20 de novembro, é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra. Para comemorar a data, entidades da sociedade civil, de modo especial as ligadas ao movimento negro, realizam eventos por todo o país.
O assessor da Pastoral Afrobrasileira, padre Ari Antônio dos Reis, diz que a data é um momento para garantir os direitos dos negros. “Estes eventos têm uma orientação comemorativa, mas também estão voltados a afirmação da consciência política, da pertença étnico racial e da reivindicação dos direitos da população afrobrasileira”.
O dia 20 de novembro é a data que comemora a Consciência Negra, tendo como figura mestre Zumbi dos Palmares que, na mesma data 1695, tombava como o grande ícone da resistência do povo negro e da luta contra a escravidão.
“A insistência em celebrar a memória de Zumbi dos Palmares no dia 20 de Novembro foi a resposta dada pelos negros organizados na perspectiva de lembrar que a abolição foi um processo inconcluso e que só seria plenamente completa pela pressão do movimento negro”, comenta padre Ari. Para ele, o Dia da Consciência Negra é fruto do amadurecimento do movimento negro que questionou o acento histórico dado ao dia 13 de maio, data que lembra a assinatura da Lei Áurea.
“Compreende-se que a assinatura da Lei Áurea não trouxe a verdadeira libertação. Apesar da legalidade da alforria viu-se a construção de outras formas de opressão e negação do direito à cidadania aos negros. Os mecanismos de exclusão continuaram assumindo facetas diferenciadas. Não foi permitido o acesso dos negros à educação, emprego renumerado, moradia digna e outras de beneficio à população em geral que já existiam no século XIX”, acentua o assessor.
Fonte: CNBB
Diferentes e Iguais
Padre Alfredo Gonçalves*
Padre Alfredo Gonçalves*
Do ponto de vista cultural, a consciência do pluralismo étnico e religioso é, sem dúvida, um dos efeitos positivos da globalização. Povos e raças, grupos e pessoas reivindicam o direito à existência. Por outro lado, o volume e complexidade dos movimentos migratórios põem em pauta o debate sobre o conceito de cidadania universal. "A pátria é a terra que dá o pão", intuía o bispo João Batista Scalabrini já na virada do século XIX para o século XX. Em meio aos avanços devastadores da economia mundializada e do capital financeiro sem fronteiras, emergem movimentos de resistência em que a luta pela preservação da identidade ganha relevância crescente.
Está em jogo o direito à diferença. Mas aqui há uma armadilha que é preciso evitar. A luta pelo direito à diferença pode encobrir desigualdades sociais históricas e estruturais. Como se o direito de ser diferente pudesse justificar a riqueza e a opulência de uma minoria, ao lado da miséria e fome da imensa maioria. Em poucas palavras, reconhecer nossas diferenças de raça, cor, origem, sexo, credo, nacionalidade, etc. não nos exime de combater os abismos que separam hoje ricos e pobres, uns às custas dos outros.
O mais grave é quando a pobreza é agravada pelo estigma do preconceito diante do outro, do estranho, do diferente. Ou pior ainda, quando miséria e discriminação tornam-se, simultaneamente, causa e efeito uma da outra, entrelaçadas ambas num círculo vicioso de exclusão social. O resultado é perverso: pobre porque desempregado, desempregado porque desqualificado, desqualificado porque não teve meios de acesso à escola, e assim por diante. Racismo, xenofobia e marginalização social constituem, então, três faces da mesma moeda.
São os grilhões de aço que, mesmo depois da abolição, ainda prendem muitos negros e negras a uma "escravidão invisível", mas não menos dolorosa. Segundo pesquisa da ONU, realizada em 2002, o Brasil é o país de maior preconceito racial. Velada ou aberta, trata-se de uma marca impressa a ferro e fogo na pele e na alma do povo negro, como também em nossa cultura tida, não raro, como "cordial e acolhedora".
Felizmente estão em curso inúmeras iniciativas de resistência. A voz dos tambores, vinda do coração da África e do ventre da própria terra, ao mesmo tempo nega e afirma a chamada "convivência pacífica" da sociedade brasileira. Nega, na medida em que põe a nu as chagas de uma escravidão que se perpetua de mil formas e em milhões de pessoas; afirma, quando traz consigo a dança, a alegria e a festa de uma povo que não se deixa abater e que carrega na memória lições de resistência e solidariedade. Voz guerreira e, ao mesmo tempo, voz de paz! Grito surdo que insiste em assinalar as diferenças, mas luta bravamente pela igualdade de oportunidades, pelo direito à vida, à cidadania e a uma pátria sem fronteiras.
No dia da Consciência Negra, 20 de novembro, somos gratos a Zumbi e às comunidades negras. Tendo sofrido na carne a escravidão, mantiveram de pé o sonho de liberdade; passando pela cruz entendem melhor a ressurreição; conhecendo a senzala, construíram o quilombo; experimentando a exclusão social, apontam para a utopia do Reino.
*Setor Pastoral Social da CNBB
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