Não só espectador, nem só consumidor. O torcedor brasileiro também quer participar das decisões que envolvem o futebol. Com esse objetivo, torcedores de todo o país estão empenhados na criação da Associação Nacional dos Torcedores (ANT).
A proposta foi lançada oficialmente no dia 10 de outubro no Rio de Janeiro, em frente ao portão 18 do Estádio do Maracanã. Um dos idealizadores da ANT, o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Marcos Alvito, explica que a associação tem como principais metas a defesa dos direitos dos torcedores e do futebol como patrimônio popular.
"O objetivo é tentar barrar o processo de exclusão do povo brasileiro dos estádios e das decisões do futebol. Existe um processo para transformar o torcedor em um consumidor, e o 'cavalo de tróia' desse processo é a Copa do Mundo", afirma.
As reformas dos estádios para a Copa de 2014, para Alvito, são a evidência mais marcante da tentativa de elitizar as arenas brasileiras, que têm reduzida sua capacidade de público. O discurso da "modernização" do futebol brasileiro, no entanto, não atinge outros níveis.
"Não se moderniza o que tem que modernizar. O sistema de venda de ingressos, por exemplo. Ainda tem gente que dorme nas filas para comprar ingressos. O transporte é ruim, a segurança também ainda não é suficiente", elenca.
A ANT pretende questionar, ainda, as cifras milionárias que envolvem as reformas dos estádios. Segundo Alvito, a adequação dos locais às normas internacionais e aos padrões da Fifa devem consumir a maior parte dos 17 bilhões de recursos que devem ser gastos com a Copa. (...)
O descontentamento dos torcedores com as tabelas e horários das partidas também está na pauta da ANT, que promete lutar, inclusive judicialmente, contra o monopólio das transmissões televisivas de jogos de futebol.
Em setembro, o Ministério Público Federal (MPF), consultado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), emitiu parecer contra o Clube dos 13 e a TV Globo. De acordo com o MPF, há prática de cartel na negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.
"A TV é a verdadeira dona do futebol hoje. O jogo é sobremesa das novelas, termina depois da meia-noite e aí já não tem mais transporte [para o torcedor]. A ANT quer lutar contra isso, fazendo pressão e inclusive juridicamente", explica Avilto.
Fonte: Jornal BRASIL DE FATO
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